Tenho vergonha de orar em público, e agora?

Talvez você seja uma daquelas pessoas que encontram muita dificuldade em orar em público; bate aquele frio na barriga só de pensar na oração que precisará fazer. Poderíamos encaminhar nossa conversa para o fato de que, se você não ora em público, isso é um reflexo do seu momento individual com Deus, mas será que se resume apenas a isso?

Éramos inimigos de Deus

Para falarmos a respeito da oração, é necessário um lembrete: orar não é algo natural ao ser humano, pois a Palavra do Senhor diz que estávamos mortos espiritualmente em nossos delitos e pecados e, como consequência, éramos, por natureza, inimigos de Deus (Efésios 2; Salmos 51.5). Ou seja, não haveria possibilidade de nos aproximarmos de Deus, pois Ele é Santo e Puro (Êxodo 15.11), e nós amamos o pecado (João 3.19; Jó 15.16) e corremos ferozmente em direção a ele, não ao Senhor. A menos que Deus Pai, que é rico em graça e misericórdia, faça de nós objeto de seu incompreensível amor por meio de seu Filho Jesus Cristo, o qual deu a sua vida para que pudéssemos clamar “Pai nosso” (Mateus 5.9), nossas tentativas de orar não serão ouvidas, pois o Senhor não ouve pecadores (João 9.31).

Todavia, quando somos alcançados, o Espírito Santo muda a direção do nosso coração, isto é, reconhecemos quem somos, com uma consciência de nosso pecado e da Santa Justiça de Deus (Romanos 6.23). Sentimos uma tristeza que não se resume à tristeza como conhecemos. Não, é como se agora pudéssemos sentir o mau cheiro dos nossos pecados, uma vez que estávamos mortos. E essa tristeza nos conduz ao verdadeiro arrependimento (Mateus 5.4; 2 Coríntios 7.10).

O Espírito Santo nos ensina a orar

Nossos afetos são redirecionados: não mais para uma vida de pecado, mas sim para uma vida de santidade, porque o nosso Deus é Santo (1 Pedro 1:15-16); no entanto, como bem sabemos, ainda precisamos lutar contra a nossa velha natureza. Como a oração não é algo natural, precisamos nos esforçar para manter uma vida de oração, contudo, essa luta não deve ser travada sozinha: precisamos do Espírito Santo, que é o nosso Consolador.

O apóstolo Paulo afirma, em sua carta aos Romanos, que nós não sabemos orar. Tiago diz que podemos pedir e não receber porque pedimos com motivações erradas (Tiago 4.3). A solução para esses dilemas, uma vez que somos salvos, é compreendermos que precisamos do Espírito Santo para orarmos e com as motivações corretas.

Então se você sente vergonha de orar em público porque julga não saber orar, realmente esse é um pensamento certo. Entretanto, não fique preso nele; em vez disso, ouça as palavras do nosso Amado Senhor Jesus ecoarem em seu coração e creia nesta promessa:

Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, a porta será aberta. Ou quem de vocês, se o filho pedir pão, lhe dará uma pedra? […] Ora, se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem?” (Mt. 7:7-11, Nova Almeida Atualizada).

Afinal, o que é oração?

Se até aqui você compreendeu que para orarmos e sermos ouvidos precisamos passar pela obra da Cruz, pois nosso estado diante de Deus Pai nos impossibilita de chegarmos até Ele, e que naturalmente não sabemos orar como convém, por isso precisamos viver em comunhão com o Espírito Santo, podemos falar sobre o que é a oração.

Orar é mais do que simplesmente falar ou repetir algumas palavras que você aprendeu ouvindo outras pessoas (Mateus 5). Em seu livro “Deleitando-se na Oração”, o autor Michael Reeves define a oração como sendo “a forma primária pela qual a fé verdadeira se expressa. Significa também que a vida sem oração é um ateísmo prático, demonstrado na falta da crença em Deus” (p. 6).

A oração demonstra a nossa total dependência de Deus, então, se deixamos de nutrir uma vida de oração, em outras palavras estamos dizendo ao Senhor que somos independentes e que não precisamos dEle. A nossa vida de oração demonstra quem somos, se professamos a fé em Cristo apenas de lábios, e não com um coração que foi regenerado – que antes era como uma terra seca onde nada poderia crescer, mas que agora é como árvore junto a ribeiros de águas (Salmos 1).

Se a vergonha de orar em público estiver relacionada com a ausência de uma vida de oração particular, a solução é arrepender-se e clamar ao Pai que lhe encha do Espírito Santo, reconhecendo, assim, a sua necessidade dEle e sua total incapacidade de orar de maneira que agrade a Deus.

Como posso saber o que orar?

Algumas vezes a dificuldade de orar com outras pessoas pode estar relacionada com não sabermos o que falar, ainda mais quando viemos de igrejas que oram de maneira que desonram o nome Santo do Senhor. Em casos assim, realmente pode acontecer de ficarmos acanhados de orar em público

Por isso, precisamos compreender que a oração está intimamente ligada à Palavra de Deus. O Espírito Santo nos ensina a orar, e Ele não nos levará a orar algo que não esteja em harmonia com a Sagrada Escritura. Por esse motivo, é necessário buscarmos conhecer a Bíblia, que é a Palavra de Deus, com uma compreensão sadia desta, para que as nossas orações sejam guiadas pela Palavra do Senhor.

Ore a Palavra

Cristo, em seu momento de profunda agonia na cruz, orou, e Ele orou a Palavra: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27.46; Salmos 22); e essa oração mudou a história da humanidade para com Deus Pai. O profeta Jonas, quando estava na barriga do grande peixe, orou ao Senhor: “Na minha angústia clamei ao Senhor […]” (Jonas 2.2), fazendo uso de Salmos 18.6, e toda a sua oração está baseada na Palavra. O conhecimento sadio da Palavra de Deus guia as nossas orações. Esses exemplos nos mostram também que as nossas emoções devem ser direcionadas pelo que as Escrituras nos falam, não o contrário. Logo, conhecimento sem uma vida de oração nos leva ao orgulho, e uma vida de oração sem o conhecimento nos leva a orarmos coisas de maneira errada e que não trarão louvor ao Santo nome do Senhor.

Se a vergonha de orar em público está relacionada com não saber quais palavras usar, a solução é conhecer mais da Palavra do Senhor e aprender com os exemplos de orações que temos nas Sagradas Escrituras, por exemplo, o livro de Salmos. Leia a oração do “Pai nosso” e medite no ensinamento que o nosso Senhor Jesus fala acerca da oração (Mateus 6.9-13).

Oração em público e o nosso coração

Para mantermos uma vida de oração, travamos uma luta. Igualmente acontece com a oração em público: sentimos medo do que as pessoas vão pensar se falarmos algo errado, vergonha porque talvez não gostamos de ouvir a nossa voz; talvez possa haver dificuldade de orar em público decorrente do desejo de ser visto, elogiado, tal como com um fariseu (Mateus 6.5). Enfim, são muitas as variáveis que podem estar por trás da dificuldade de orar em público. Teremos as nossas dificuldades, mas o problema está em ficarmos tão presos no “e se”, nos medos e nas dificuldades a ponto de deixarmos de orar em comunidade por conta de uma estima maior pelo eu do que por Cristo.

Timidez para orar em público é pecado?

“Eu não gosto de falar em público. Devo orar em comunidade?” Talvez esta pergunta passe pela sua mente. É verdade que cada ser humano possui suas particularidades; alguns têm uma maior habilidade para falar em público e gostam disso, outros não apreciam ou não preferem tal situação, ainda que levem jeito, e isso não é um problema em si. Todavia, quando deixamos de praticar uma verdade bíblica por conta, por exemplo, da timidez, nesse caso temos um problema, porque deixamos que outras coisas – como o medo ou o ego – tomem o lugar que pertence somente ao Senhor. Em outras palavras, precisamos vigiar os nossos corações e as motivações que estão neles (Provérbios 4.23; Lucas 12.34), levando até o Senhor nossos pecados e nossas dificuldades, crendo que Ele nos ajudará. Então a resposta para esse possível questionamento – “Eu não gosto de falar em público. Devo orar em comunidade?” – é sim.

Jesus, nosso exemplo

No Evangelho de João, capítulo 17, versículo 1, é dito: “[…] Jesus olhou para o céu e orou: ‘Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho para que o teu Filho te glorifique’”. A oração feita por Jesus neste capítulo é conhecida como “oração sacerdotal”, em que Cristo ora por si, pelos seus discípulos e por aqueles que viriam a crer em seu nome. Isso mesmo, Cristo orou por mim e por você: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles” (João 17:20).

Jesus é o nosso exemplo de alguém que tinha uma vida íntima de oração com o Pai, mas que também orava em público. Podemos ver outro exemplo em João 11.41: “[…] Jesus olhou para cima e disse: ‘Pai, eu te agradeço porque me ouviste’”.

Muitas vezes a nossa vergonha de orar em público se dá pela falta de compreensão ou por perdermos de vista para quem estamos orando, diante de quem estamos nos apresentando. Se tivéssemos em vista que é diante da Trindade que estamos nos apresentando em oração, será que isso não mudaria o modo como vemos a oração em público? Pois quando oramos na comunidade, entre irmãos, estamos fazendo o que nosso Mestre fez, e Ele orou sozinho e em público.

Michael Reeves, ainda em seu livro “Deleitando-se na Oração”, escreveu: “Orar com alguém também pode ser uma experiência poderosa […], orar pelo outro é partilhar a compaixão do Pai. Orar com o outro significa ser família e promover a unidade amada por Deus” (p. 21).

Podemos orar em público nas seguintes situações: começando ou encerrando uma reunião ou culto na igreja; apresentando a Deus pedidos de orações dos nossos irmãos (Tiago 5.16); orando por nossos governantes (1 Timóteo 2.1); no evangelismo, quando alguém pede uma oração; orando com outros irmãos. São muitas as possibilidades que podem nos convidar a elevar nossa voz em oração, e em todas essas situações estaremos diante daquEle que reina e está vestido de majestade (Salmos 93), o Único que é digno de receber glória e louvor!

Uma dica

Comece orando em grupos pequenos. Em seu lar no momento do culto domiciliar, por exemplo. Caso você more em um lar cristão, peça para fazer as orações antes das refeições. Chame um(a) amigo(a) para orar junto com você. O importante é começar apesar da vergonha; e creia que Deus pode usar a sua oração para mudar situações.

Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e lhe foi dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de outro que está diante do trono. E a mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos. Então o anjo pegou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (Ap. 8:3-5, Nova Almeida Atualizada).

Em seu livro “A Oração Muda as Coisas?”, Robert Charles Sproul responde a uma pergunta: “A oração muda realmente as coisas?”, e a resposta é um grande sim. A oração não mudará Deus, porque o Senhor não muda, mas “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5.16). Isso não quer dizer que todos os pedidos feitos serão atendidos ou que existem orações mais poderosas do que outras. Somos chamados a orar, a sermos perseverantes (Lucas 18:1-6) e a descansarmos na soberania do nosso Senhor (Isaías 40.28).

Conclusão

Espero que esse texto o tenha ajudado a enxergar o privilégio que é podermos dizer “Pai nosso”, sabendo que a nossa oração subirá com cheiro suave por causa do sacrifício de Cristo que nos permite livre acesso ao Pai.

Jesus é o nosso exemplo, pois sendo Deus ainda que sendo homem, tendo plena comunhão com o Pai em sua humanidade, ele nos ensinou que precisamos depender do nosso Pai, e isso é refletido na oração.

Não podemos anular que encontraremos dificuldades para orar, pois somos pecadores e precisamos desesperadamente da ajuda do nosso Consolador e Intercessor Espírito Santo. Quão maravilhoso é podermos nos achegar diante da Trindade, e isso também se dá quando oramos em público.

Manter uma vida privada de oração exige trabalho, e da mesma forma acontece com a oração em público. Em outras palavras, é uma guerra. O pastor John Piper diz em um vídeo disponível no YouTube: “Faça guerra”. Lute contra a sua carne, leve a Deus as suas dificuldades para orar e faça guerra, sabendo que nessa guerra você não tem capacidade de vencer sozinho, então creia que no nome de Jesus Cristo há poder (Filipenses 2.9); Ele pode te socorrer em suas dificuldades (Hebreus 2.18). Creia em sua Palavra, a qual diz que você não está sozinho, pois nos foi enviado o Consolador que intercede por nós e nos ensina a orar da maneira que agrada ao nosso Pai.

Soli Deo Gloria!

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