Antes de iniciarmos nossa conversa, é importante pontuar que entendemos e reconhecemos a existência de denominações religiosas que, ainda que intitulando-se como cristãs, desviam seus passos do caminho que o Senhor ordenou a seus servos em sua Palavra – as Sagradas Escrituras. Essas instituições que fogem do padrão de fé e prática que Deus nos deixou na Bíblia são, de fato, maléficas aos seus membros, podendo causar fortes danos espirituais, emocionais, físicos e financeiros a esses. Incentivamos que os crentes em Jesus estejam em igrejas realmente sadias e bíblicas, que zelam pelo ensino e prática incessantes de toda a Palavra de Jeová; e estejam livres das amarras de denominações antibíblicas, que usam o santo nome de nosso Senhor como falso pretexto para a realização de atrocidades que Deus nunca ordenou nas Escrituras.
O foco de nossa discussão é outro: como lidar com a frustração com uma igreja bíblica e saudável, mas constituída por pecadores imperfeitos?
Não é raro vermos irmãos em Cristo decepcionados com suas respectivas comunidades. Esse desapontamento pode ser oriundo de variados fatores: o modo como a igreja em questão é liderada, a maneira como os louvores são cantados, ou até mesmo um desentendimento com algum outro irmão ou grupo de pessoas. As motivações podem ser das mais diversas e têm potencial para ser justas e genuínas. No entanto, emitimos o alerta para que essas queixas não se tornem uma pedra no meio de nossa caminhada de vida de igreja.
“Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.” Filipenses 3:12
Podemos começar dizendo que uma igreja bíblica – é sempre bom batermos nessa tecla – é composta por vários indivíduos. Indivíduos esses que, mesmo em busca constante pela santidade, e disso não abrimos mão, ainda carregam suas individualidades imperfeitas, seja no modo de agir, seja no modo de pensar. Somos igreja somente porque fomos redimidos por Cristo. Precisamos da redenção do Cordeiro porque fazemos parte da depravação total – nos rebelamos e pecamos contra o nosso Criador. Assim sendo, observamos que a igreja é formada por pecadores resgatados que estão trilhando o caminho da santificação, mas que ainda erram e não atingiram a perfeição.
Nesse sentido, há um dinamismo bastante conhecido no meio teológico: o dinamismo do “já”, mas “ainda não”. Nós, crentes em Jesus, já fazemos parte da Igreja gloriosa de Cristo; porém, ainda não somos livres do pecado de maneira plena, final e perfeita. Assim, conseguimos notar que a igreja, como lugar de pessoas imperfeitas, poderá apresentar atitudes imperfeitas. E é justamente isso que nos mostra a importância de viver em comunidade.
“Procurem aperfeiçoar-se, consolem uns aos outros, tenham o mesmo modo de pensar, vivam em paz. E o Deus de amor e de paz estará com vocês.” 2 Coríntios 13:11
“Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima.” Hebreus 10:24-25
É de forma coletiva, no meio dos irmãos, que somos aperfeiçoados. A comunidade é onde Deus nos molda. A igreja precisa estar reunida porque é no meio dela que praticamos as boas obras que nos foram ordenadas, e o mundo precisa vê-las. A reunião dos santos é o lugar onde aprendemos sobre Aquele a quem servimos. Além disso, o fato de Deus ter nos criado como seres relacionais nos dá a ideia de que seu nome será mais glorificado coletivamente, e não individualmente.
Estarmos reunidos em comunidade é um ato de obediência ao nosso Senhor, pois é assim que Ele ordena em sua Palavra. Como servos submissos do Deus Altíssimo, acatamos a sua ordem, não enxergando a igreja de forma meramente sentimental, pois assim a descartaríamos quando algo acontecesse de maneira contrária às nossas vontades. Enxergamos a reunião dos santos como um compromisso, em submissão a algo que Deus considerou bom.
“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.” Salmos 133:1-3
Existe um ponto positivo no fato de a igreja, por vezes, tomar decisões que vão contra as nossas vontades: o quebrantamento do nosso ego. É em comunidade que conseguimos habilidades para enfrentar diariamente esse inimigo tão presente na jornada dos cristãos. Conviver com opiniões contrárias às nossas – que não ferem as Escrituras – e seguir tomadas de decisões que deduzimos como inferiores às que teríamos, nos ajudam a praticar a humildade. Novamente, a igreja é um lugar de seres imperfeitos, e não consigo enxergar um local melhor para que se cumpra o que nos diz Provérbios 27:17.
“O ferro se afia com ferro, e uma pessoa, pela presença do seu próximo.” Provérbios 27:17
Imitemos Cristo, que é o nosso maior exemplo. Ele, sendo perfeito, viveu encarnado estando sempre rodeado por pessoas, ensinando pacientemente discípulos imperfeitos, que consideraríamos como irmãos difíceis de lidar. Quando nos atentamos somente aos defeitos e limitações dos filhos de Deus e, consequentemente, da igreja, nosso ego faz com que a insatisfação, a frustração e o desânimo nos acompanhem a todo momento, o que nos impede de reparar nos acertos cometidos pela igreja local.
Há, ainda, o problema de termos uma visão consumista da igreja, tratando-a como um supermercado: nos decepcionamos por ela não ser como nós queremos e não se moldar exatamente de acordo com as nossas exigências. Nosso foco na comunidade, no entanto, deveria ser outro: precisamos servir aos nossos irmãos.
“Amem uns aos outros com amor fraternal. Quanto à honra, deem sempre preferência aos outros.” Romanos 12:10
Esse texto também é um chamado aos desanimados não somente com comunidades específicas, mas com a Igreja de Jesus de forma geral. Por mais que existam instituições religiosas que deturpam o ensinamento das Sagradas Escrituras, ainda existem boas igrejas, sérias, bíblicas e ortodoxas, que se empenham em pregar e seguir o verdadeiro Evangelho. Atenda à ordem do Senhor e entenda a necessidade de se estar em comunidade.
C. S. Lewis, em seu livro intitulado “Os quatro amores”, traz uma definição interessante sobre os riscos causados pelo amor. Esses riscos – que valem a pena ser corridos – estão presentes no ambiente de reunião dos crentes em Jesus, já que é lá o local onde devemos desenvolver o amor aos nossos irmãos.
“Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar-se indestrutível, impenetrável, irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.”
Como lidamos, portanto, com a decepção que a imperfeição da igreja nos causa? Entendendo que, antes de tudo, a frustração com a comunidade é uma frustração com indivíduos caídos e que, assim como essas pessoas, nós ainda não atingimos a perfeição plena – o que também pode causar desapontamentos aos que nos rodeiam. Que Deus guarde nossos corações e nos dê a maturidade necessária para compreendermos que, onde há amor, há o risco de nos decepcionarmos, e que isso não deve tirar a nossa paz! Mantenhamo-nos perseverantes e alegres na fé, tendo consciência de que Aquele que começou a boa obra em sua amada Igreja há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:6).
“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.” Efésios 4:32
Que possamos nos empenhar em continuar lutando pela santificação e, ao mesmo tempo, estar felizes por fazermos parte de comunidades sadias, compostas por pessoas imperfeitas que buscam a perfeição.