Canto congregacional é o nome dado ao momento do louvor onde a igreja, a uma só voz, canta as Escrituras.
Para alguns, o canto congregacional é uma estética erudita, onde toda a igreja canta com apenas um condutor, uma espécie de regente, e com apenas um instrumento base, geralmente um órgão, com músicas do hinário. Essa estética tradicional vem do sec. XIX e é enraizada até hoje nas denominações tradicionais, como o modelo de “maior reverência e santidade”. Esta estética é TAMBÉM um canto congregacional, mas ela não define o conceito.
É o momento do culto onde a igreja canta a Deus sobre Deus e suas obras, com músicas acessíveis a todos, centradas na bíblia, conduzidas por músicos e cantores.
‘’Disse Davi aos chefes dos levitas que constituíssem a seus irmãos, os cantores, para que, com instrumentos músicos, com alaúdes, harpas e címbalos se fizessem ouvir e levantassem a voz com alegria.’’ 1 Crônicas 15:16
Aqui vemos que no canto congregacional, ou canto da Casa do Senhor, havia cantores e músicos, tal qual temos hoje. E todos sendo peritos, denotando que os que servem a Deus com música precisam fazer isso com minúcia. Ressalto que havia cantores, pois em algumas denominações não há cantores no louvor, mas a bíblia permite que cantores conduzam o canto, juntamente com instrumentos e com alegria.
Não há problema em demonstrar alegria e afeto durante o momento de louvor. Calvino dizia que o levantar das mãos é uma prova de que somos finitos, limitados ao estender de um braço, cantando àquele que é infinito.
Existem diferentes personalidades, uns mais expressivos e outros mais introvertidos, mas cada um precisa expressar sua alegria e seus afetos a Deus ao cantar. Temos temor de nos excedermos por presenciarmos igrejas em que isso era extrapolado ou suprimido, mas em todos os salmos, há espaço para um canto alegre e expressivo a Deus no momento do culto.
‘’Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar, e louvar, e exaltar o Senhor, Deus de Israel, a saber, Asafe, o chefe, Zacarias, o segundo, e depois Jeiel, Semiramote, Jeiel, Matitias, Eliabe, Benaia, Obede-Edom e Jeiel, com alaúdes e harpas; e Asafe fazia ressoar os címbalos. Os sacerdotes Benaia e Jaaziel estavam continuamente com trombetas, perante a arca da Aliança de Deus. Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos o Senhor.’’ 1 Crônicas 16:4-7
Davi diz que para esse retorno da arca, que simbolizava a presença de Deus no meio do seu povo, deveria haver músicas, e é ele quem institui o louvor no culto. Antes disso, a liturgia era apenas leitura da Palavra e os sacrifícios. Música sempre existiu, vemos isso em Gn. 4 e Ex. 15, mas a música como adoração comunitária é instituído aqui por Davi.
Vs. 4: até aqui os levitas só cuidavam do templo dos sacrifícios, mas aqui foram designados os levitas para serem músicos e cantores.
Vs. 5: Asafe e seus filhos são aqui designados para isso e passam a ser inspirados por Deus a compor os salmos. Asafe é hoje o que seria o líder do louvor, Zacarias quem substituiria o líder em alguma eventualidade, e os demais citados eram os músicos com seus instrumentos que são traduzidos hoje por instrumentos de corda (violão, piano, guitarra) e instrumentos de percussão, como bateria.
Vs. 6: instrumentos de sopro ‘’diante da arca’’, ou seja, diante da presença do próprio Deus.
Vs. 7: instituição do louvor como liturgia e Asafe e seus irmãos conduzindo todo o povo, possivelmente cantando.
Vs. 8-36: são os Salmos cantados naquele dia. Sl. 105, depois temos os Sl. 96 e 106. Aqui temos as primeiras músicas instituídas por Deus para serem cantadas no primeiro louvor da história da igreja. Temos os instrumentos, os músicos e as músicas.
No Novo Testamento não era diferente. Embora havia outras canções, a principal prática musical da igreja são os Salmos.
E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.’’ Mateus 26:30
Jesus canta os Salmos. Segundo a tradição, os Sl. 113-118 que eram cantados na celebração da páscoa.
O povo de Deus desde sempre cantou os Salmos, e essa prática vem se extinguindo desde o séc XIV, sendo substituídos pelos hinários e hoje em dia por canções gospel. O Canto das igrejas precisa ter um retorno aos Salmos.
Não defendemos a “salmodia exclusiva” a qual ordena que sejam cantados apenas Salmos em nossa liturgia. Somos adeptos a “salmodia inclusiva”, pois a Bíblia tem canções que estão fora do livro dos Salmos, por isso podemos compor canções baseadas nas escrituras, e principalmente nos Salmos.
‘’E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.’’ Efésios 5:18-21
Uma igreja gentílica do novo testamento, cumprindo o Sl. 117 “exaltem ao Senhor, todas as nações, exaltem-no todos os povos!” É esperado que uma igreja cheia do espírito cante os Salmos.
‘’Todos estes estavam sob a direção respectivamente de seus pais, para o canto da Casa do Senhor, com címbalos, alaúdes e harpas, para o ministério da Casa de Deus, estando Asafe, Jedutum e Hemã debaixo das ordens do rei.’’ 1 Crônicas 25:6
O “canto da Casa do Senhor” é o que chamamos hoje de “canto congregacional”.
Pensamos que estamos fazendo algo por Deus no momento do louvor, mas é Ele quem faz em nós. Cantamos a Deus as suas verdades para que Ele as coloque em nós. Ao cantarmos, há um trabalho de Deus em nosso coração em fixar aquela letra em nós. O momento do louvor não é somente uma parte da liturgia, mas também um meio da graça de Deus em nossas vidas.
Quando cantamos que Ele é grande, Deus não fica maior, mas a noção da grandeza dele está crescendo dentro de nós. Quando pensamos que estamos fazendo algo para Deus, é Ele quem está fazendo em nós. Ao cantarmos, expandimos nossa compreensão de quem Deus é através do conteúdo da canção. A música nos faz expressar com afetos de alegria ou introspecção as verdades bíblicas.
‘’Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais’’ Efésios 5:19
Cantamos uns aos outros com Salmos porque se, eventualmente, fraquejarmos na fé, a música comunitária pode ser um dos meios pelo qual Deus nos tratará enquanto indivíduos no meio do povo. Vemos isso em Sl. 73 na experiência do salmista ao entrar no tempo e cultuar. At. 4 nos fala disso também. Ex. 5 é uma resposta, em música, do povo ao que Deus fez.
O louvor é um resultado daquilo que Deus fez pelo seu povo. Todas as canções que temos na bíblia, são após Deus ter feito algo ao seu povo. Ao atravessar o mar o povo canta. Ao abrir a madre de Ana, ela canta. No nascimento de Jesus, os anjos cantam. Maria cantou. Zacarias, Simeão, Moisés e muitos outros, fora os Salmos.
Nós, como povo de Deus, cantamos a Ele em resposta ao maior ato dele por nós que é a Cruz de Cristo. Então quando canto sobre Cristo, canto sobre uma realidade que aconteceu na minha vida, mas que também aconteceu na vida do meu irmão. Isso é o canto congregacional: juntos celebramos essa verdade com nossos afetos.
O exemplo dos pais ao cantarem com emoção e vigor produzem lembranças fortes nos filhos sobre o que eles estavam cantando. Isso serve de exemplo de fé dentro de casa e faz com que os pais ensinem os filhos no caminho que devem andar, porque a música é didática.
A prática do canto congregacional faz pessoas diferentes em todos os sentidos se unirem em torno de um propósito.
O canto proporciona a experiência de unidade entre nós e de nós com Cristo e isso é um testemunho aos de fora de que um dia não será uma igreja local que estará reunida cantando a Deus, mas a igreja universal. Ao cantarmos comunitariamente estamos iniciando aqui uma prática que será eterna aos salvos.
‘’Os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.’’ Apocalipse 4:10,11
Um louvor que ecoa de todo o universo! Todos os seres, sapientes ou não, estão em constante adoração a Deus.
Toda a criação obedece a Deus, o rebelde da história é o nosso coração. Então quando cantamos, nós nos unimos a esse concerto universal, uma espécie de sinfonia cósmica, entoada por toda a criação. E mesmo que ainda sejamos tangidos pelo pecado, nosso coração agora é regenerado e pode cantar ao Deus criador.
Quando cantamos, não estamos cantando somente com o meu irmão do lado, mas ao cantar os salmos eu me uno a Isaías, a Moisés, a Davi e ao próprio Jesus, como vemos em Mt. 26.
Há um aspecto no canto que nos une com todos os crentes em todas as eras, e toda a criação, que é cantar a palavra de Deus. Tudo isso precisa levar a gente a cantar cada vez mais e melhor a Deus. Porque para Deus, a música é um aspecto importantíssimo da vida e do culto cristão.
Música Congregacional não é toda ou qualquer música gospel. Não é porque Deus é o tema central da letra que ela pode ser cantada em culto. Ela é acessível? Fala diretamente a Deus ou sobre Deus? Esta centrada na sã doutrina? Então ela pode der uma música Congregacional.
Música Congregacional não é somente música lenta ou antiga. Este é o ponto de maior confusão e precisa ser entendido de uma vez por todas.
A depender destes pontos listrados, o repertório muda completamente, pois o que é entendido como “melodia fácil” em um país não é o mesmo que outro. Um ritmo que é considerado normal no Norte pode ser considerado um escândalo aos mais velhos do Sudeste, por exemplo. Por isso, a igreja necessita de cuidado, pois muitas coisas são lícitas na área da música, mas tudo precisa ser aplicado com cautela, ensino e paciência, baseado no texto de Rm. 14.
Ao escolher um repertório, somos responsáveis por colocar palavras na boca de uma comunidade inteira. Por isso, o papel do pastor e do líder do louvor ao aprovarem um repertório é algo que precisa ser levado a sério.
‘’E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.’’ Apocalipse 15:3,4
Este texto de apocalipse faz menção ao Cântico de Moisés em Ex. 15, onde os atos de Deus são transformados em música pela primeira vez na bíblia. A primeira e a última canção das escrituras remetem a Deus e seus atos somente, então por que nos cultos de muitas igrejas vemos músicas sobre superação pessoal, autoajuda e experiências pessoas? A música no culto deve ser a Deus e falar sobre seus atos e atributos. O que difere disso não está de acordo com o padrão bíblico de louvor.
Ao escolhermos o repertório de uma igreja local, as músicas precisam passar por alguns crivos importantes. Esses “filtros” são cruciais para que a música seja bíblica e acessível à comunidade.
Diante disso, os líderes precisam se atentar a isso para instruírem o grupo de música a repensarem o repertório ou até mesmo instruir a igreja a expandir seu repertório pessoal. Tudo isso para cantarmos o que Deus fez a nós no passado com músicas antigas, mas também cantemos a Ele o que têm feito hoje através de canções atuais.
‘’Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.’’ Colossenses 3:16
Notamos mais uma vez que a música sempre vem, na grande maioria dos casos, como uma expressão de alegria pelos feitos de Deus pelo seu povo. Assim deve ser o nosso canto, alegre pelo maior feito Deus fez em nós, Cristo. Por isso, no próximo culto, cante a Deus com todo seu coração, levante suas mãos (Sl. 134), bata palmas (Sl. 47) e se alegre pelo privilégio de cantar a Deus.