A Tríplice Coluna do Ministério de Cristo

Resumo de Parte da Exposição de Mateus 4:23
Publicado em 18/01/2025

Mateus 4:23 Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo.”


No início do ministério de Jesus, encontramos uma estrutura fundamental que guiaria Sua missão na Terra e moldaria o futuro do cristianismo. Essa estrutura, composta por três pilares essenciais — a pregação, o ensino e a cura — reflete a abrangência do propósito de Cristo e a profundidade de Sua obra. Compreender esses elementos é crucial para entendermos não apenas o contexto de Sua vida e ministério, mas também os princípios que devemos aplicar em nossa caminhada cristã hoje.

A pregação, que visava anunciar o Reino de Deus e chamar à conversão, tinha o propósito de iluminar as trevas da ignorância espiritual. O ensino, por sua vez, corrigia mal-entendidos, aprofundando o conhecimento das verdades do Reino e corrigindo as falhas de interpretação que impediam o verdadeiro entendimento das Escrituras. E, finalmente, a cura — uma expressão do poder de Deus que restaurava a saúde física e espiritual — revelava o caráter misericordioso e redentor de Cristo.

Esses três pilares se entrelaçam de forma inseparável, formando o alicerce da missão de Jesus. Quando consideramos essa tríplice coluna, podemos ver mais claramente o que Ele fez por nós e como Ele nos ensina a viver em Sua luz. Este tripé não apenas fundamenta o ministério de Cristo, mas também serve como um modelo para a missão da Igreja em todos os tempos. Ao entendermos a importância de cada um desses elementos no início do ministério de Jesus, podemos aplicar esses princípios em nossa vida cotidiana e em nosso chamado para sermos Seus discípulos fiéis.


1. A Pregação: Resolvendo o Problema da Ignorância

A pregação foi a primeira grande coluna do ministério de Jesus, essencial para compreender a profundidade do Seu trabalho. Em Mateus 4:17, vemos que Jesus iniciou Sua pregação dizendo: "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus". Esse anúncio não se limitava a uma repetição de palavras, mas ao anúncio de algo radicalmente novo: o Reino de Deus estava se manifestando e, com Ele, uma nova forma de ver e viver o mundo.

Quando falamos da pregação de Jesus, é importante entender que Ele estava resolvendo um grande problema: o da ignorância espiritual. O termo "pregar", ou "apregoar", como algumas traduções preferem, indica que Jesus estava proclamando verdades que as pessoas não conheciam até então. O povo de Israel, embora tivesse alguma conexão com as Escrituras e com as promessas de Deus, viviam em uma profunda escuridão quanto à verdadeira compreensão do Reino de Deus. A luz da revelação estava chegando, dissipando a sombra da ignorância que havia dominado as mentes e corações.

A pregação de Jesus não se limitava a ensinar, mas a proclamar uma verdade: que muitos aspectos da lei eram provisórios, e que Ele, a pessoa dEle, estava acima da lei. Ele fazia isso de diversas maneiras: quando Ele abria a lei e lia textos cerimoniais, Ele dizia, "isso aponta para mim". Quando Ele mencionava as profecias, Ele mostrava que elas apontavam para Ele. Até mesmo os detalhes do Pentateuco, como as vestes sacerdotais, Ele os interpretava como exigências de santidade que permanecem na Nova Aliança.

Essa compreensão da lei fundamentada em Cristo é central para o que Jesus estava ensinando e pregando. Paulo, mais tarde, expressaria isso claramente em 1 Coríntios 3:10-11, quando afirmava que Jesus Cristo é o fundamento da fé e da prática cristã. Toda a lei e toda a nova aliança estão fundamentadas em Cristo, e é a partir desse alicerce que devemos edificar nossa vida cristã.

Esse contexto de ignorância não era apenas uma questão de falta de informação, mas de um entendimento distorcido da vontade divina. O povo de Deus, que deveria ser luz para as nações, vivia em trevas espirituais, sem compreender plenamente os mandamentos, a divindade e o propósito de Deus para suas vidas. Jesus, portanto, veio para iluminar essa escuridão, para abrir os olhos do povo, especialmente dos judeus, que ainda viviam sob uma interpretação limitada e muitas vezes equivocada das Escrituras.

A pregação de Jesus, portanto, não era apenas um convite para a conversão, mas uma verdadeira revelação do Reino de Deus. Ele vinha para dissipar toda a ignorância que cercava a compreensão sobre a divindade, sobre os mandamentos e sobre a verdadeira interpretação das Escrituras. O povo de Israel, que já tinha algum conhecimento das Escrituras, precisava de uma nova revelação, uma nova visão, e foi exatamente isso que Jesus trouxe. Ele não estava apenas corrigindo o conhecimento religioso da época, mas trazendo a luz da verdade que daria ao povo as condições para viver de acordo com o plano de Deus.


2. O Ensino: Resolvendo o Problema dos Mal-entendidos

O ensino de Jesus, enquanto componente essencial do Seu ministério, tinha a função clara de dissipar os mal-entendidos a respeito da vontade de Deus e do Reino de Deus. A pregação de Jesus, como vimos, tinha o propósito de anunciar a chegada desse Reino, mas o ensino era a ferramenta usada por Ele para esclarecer e corrigir as distorções que existiam sobre o que esse Reino realmente significava.

É bastante comum encontrarmos, ou até mesmo sermos nós mesmos, pessoas que, apesar de terem uma vida cristã verdadeira, piedosa e temente a Deus, ainda se deparam com dificuldades em compreender completamente os ensinamentos das Escrituras. O fato de sermos genuinamente cristãos não nos isenta da necessidade de entender a fundo as verdades espirituais reveladas por Deus. Isso é particularmente evidente quando falamos de temas mais complexos, como a nova aliança, a doutrina do Reino de Deus e outros tópicos profundos das Escrituras. Jesus sabia disso, e por isso, Seu ensino foi fundamental para corrigir os mal-entendidos que existiam sobre esses assuntos.

Jesus, ao ensinar, estava tratando diretamente do problema do mal-entendido em relação ao Reino de Deus. Em muitas ocasiões, os judeus de Sua época, assim como muitos outros, tinham uma visão distorcida do que o Reino de Deus representava. Eles imaginavam um reino físico e terreno, algo que fosse apenas um restabelecimento de um reino político, como nos tempos de Davi. Mas Jesus veio para ensinar que o Reino de Deus não era como os reinos deste mundo. Era um Reino que se estabelecia no coração dos crentes, uma realidade espiritual, e que, embora fosse em grande parte invisível e espiritual, teria implicações eternas para aqueles que o aceitassem. O ensino de Jesus então era vital para mudar essa compreensão errada.

A Bíblia nos mostra que uma vida cristã verdadeira não significa uma compreensão perfeita de todos os aspectos das Escrituras. Muitas vezes, mesmo os mais fiéis e comprometidos cristãos podem se encontrar com dificuldades de interpretação ou compreensão profunda das doutrinas essenciais. Jesus, com Sua sabedoria divina, veio para sanar esse problema. Ele não apenas proclamava a verdade, mas ensinava, detalhadamente, sobre o Reino de Deus, sobre os mandamentos, e sobre o propósito de Deus para o Seu povo. Ele corrigia os mal-entendidos e esclarecia os conceitos errôneos que se formaram ao longo do tempo.

Infelizmente, vemos que ao longo da história da Igreja, em muitos lugares, esses mal-entendidos persistiram e causaram danos significativos. Em algumas regiões do mundo, movimentos cristãos que uma vez floresceram se dissiparam porque o povo de Deus não compreendeu corretamente os fundamentos da fé, a verdade do Reino de Deus e a plenitude da nova aliança em Cristo. Isso não é uma falha do Evangelho em si, mas a consequência de não buscar a clareza dos ensinamentos divinos. A história nos lembra que a fidelidade ao ensino correto da Palavra é essencial para a continuidade e vitalidade de qualquer comunidade cristã.

Por isso, o ensino de Jesus se torna ainda mais crucial. Ele não apenas anunciava o Reino de Deus, mas instruía detalhadamente os Seus seguidores sobre como viver nesse Reino e como entender a vontade de Deus. Ele corrigia os erros de entendimento que poderiam comprometer a prática da fé e a experiência do Reino. Seu ensino foi uma maneira de estabelecer a clareza necessária para que a verdade divina não fosse distorcida.


3. A Cura: Resolvendo o Problema do Sofrimento Humano

A terceira e última coluna que sustenta o ministério de Jesus é a cura, o que evidencia seu compromisso com o ser humano como um todo: corpo, alma e espírito. Jesus não apenas ensinava e pregava, mas também tocava diretamente o sofrimento das pessoas. A cura realizada por Jesus tinha um papel que transcendia o aspecto físico. Ela era uma manifestação tangível de que o reino de Deus estava operando no presente, começando a restaurar todas as coisas. Cada cura era um testemunho vivo da compaixão de Deus e uma declaração de que o sofrimento humano não era ignorado pelo Criador.

Esse ponto é crucial: Jesus não veio apenas para resolver os problemas espirituais do homem, mas também para lidar com o sofrimento humano nesta terra. As doenças, a dor e a opressão demoníaca eram resultados da queda e do pecado, e as curas eram demonstrações concretas de que o poder do reino estava revertendo esses efeitos. Ao curar, Jesus revelava o caráter redentor de Deus, um Deus que se importa profundamente com o bem-estar de suas criaturas. Ele não limitava suas ações apenas ao anúncio de uma esperança futura, mas trazia alívio no aqui e agora, para aqueles que estavam marginalizados, desamparados e desesperados.

Os atos de cura não eram aleatórios, mas sempre carregados de significado teológico e pastoral. Eles apontavam para a restauração plena que será consumada no fim dos tempos, quando não haverá mais dor, sofrimento ou morte. Porém, esses milagres também eram um lembrete de que Deus age no presente, trazendo cura e esperança àqueles que confiam nele.

A cura também simbolizava o reestabelecimento da dignidade humana. Muitos dos que Jesus curava estavam socialmente excluídos, vistos como impuros ou indignos de participação na comunidade. Suas ações restauravam não apenas a saúde física, mas a reintegração ao convívio humano e religioso. Por meio da cura, Jesus reafirmava que o sofrimento humano não é algo com que Deus está conformado. Ao contrário, ele atua para reverter, aliviar e trazer redenção às marcas do pecado neste mundo.

A cura realizada por Jesus não foi apenas uma intervenção física, mas uma demonstração do Seu profundo cuidado e afeto pelo ser humano. Ele curava tanto a alma quanto o corpo, ensinando e pregando para restaurar espiritualmente, e curando fisicamente para trazer alívio ao sofrimento. Não importa se a doença era espiritual, emocional ou patológica, Jesus estava lá, sempre presente, pronto para restaurar.

A palavra grega malakian, traduzida como "doença", se refere a doenças mais simples e superficiais. Muitas vezes, pensamos que certos problemas, como uma gripe ou uma dor passageira, não merecem nossa oração, mas Jesus estava presente até para curar essas doenças mais simples. Ele se importa com cada detalhe de nossa vida, não importa quão pequena ou grande seja a nossa dor. A cura de Jesus se estende a todas as esferas do ser humano, seja um mal simples ou uma doença crônica, como a lepra, que era considerada incurável na época.

Quando Ele curava, não se tratava apenas de "sarar" a doença. Era uma oportunidade para Ele se relacionar com o povo, para demonstrar que Ele se importa profundamente com o sofrimento humano. Ao curar os leprosos, os cegos, os coxos, Ele estava mais do que apenas restaurando a saúde física; Ele estava restaurando o relacionamento com aqueles que estavam à margem da sociedade.

Um exemplo claro disso é o episódio com o cego, que clamou a Jesus, "Filho de Davi, tenha misericórdia de mim." Embora todos soubessem o que o cego queria, Jesus perguntou: "O que queres que eu te faça?" Essa pergunta não era uma dúvida sobre a necessidade do cego, mas uma oportunidade de estabelecer uma relação mais profunda, de se envolver com a pessoa em sua totalidade, de entender o sofrimento e responder com ternura. Jesus não estava apenas resolvendo um problema físico; Ele estava oferecendo uma experiência de cura emocional e espiritual.

A cura de Jesus também nos ensina sobre a reciprocidade no relacionamento com Ele. Quando Ele curou os dez leprosos e apenas um voltou para agradecer, a pergunta de Jesus foi clara: "Por que só você voltou?" Ele esperava gratidão, mas mais do que isso, Ele desejava um relacionamento genuíno, que fosse além de um simples ato de cura. Ele queria que as pessoas reconhecessem não apenas o milagre, mas o amor e a conexão que Ele oferece.

Por isso, a cura de Jesus não é apenas sobre restaurar corpos ou resolver problemas momentâneos, mas sobre restaurar nossa relação com Ele. Ele está presente no meio do Seu povo, e essa presença é o que nos dá verdadeira cura — cura para o corpo, para a alma, e para os relacionamentos. Não importa quão grande ou pequeno seja o nosso sofrimento, Ele se importa conosco. Jesus não apenas curava, Ele se relacionava, e é esse relacionamento que traz verdadeira transformação.


Conclusão prática

Como discípulos fiéis de Jesus precisamos entender que a pregação, o ensino e a cura devem ser parte do nosso cotidiano. Em primeiro lugar, a pregação nos chama a anunciar a mensagem do Reino de Deus, seja em palavras ou ações, compartilhando o evangelho com os outros e sendo testemunhas vivas da transformação que Cristo pode trazer. Não se trata apenas de uma mensagem verbal, mas de viver a verdade de Deus em nosso comportamento, sendo luz em um mundo que ainda está em trevas espirituais.

O ensino nos desafia a buscar um entendimento mais profundo das Escrituras, corrigindo mal-entendidos e buscando viver de acordo com a vontade de Deus revelada em Sua Palavra. Devemos ser humildes e comprometidos em aprender constantemente, e também compartilhar o que aprendemos com os outros, ajudando-os a crescer no conhecimento de Cristo e na compreensão do Seu Reino.

Por fim, a cura nos chama a ser agentes de restauração, buscando não só o bem-estar físico, mas também o emocional e espiritual das pessoas ao nosso redor. Isso pode se manifestar em orações de intercessão, apoio a quem está sofrendo, e oferecendo conforto e ajuda prática aos necessitados. Tudo isso mostra o caráter redentor de Cristo em todas as áreas da nossa vida.

Os ensinos contidos neste post se referem parte da exposição de Mateus feita pelo Pastor presidente da IBPRV, Rodolfo Figueiredo, em 27 de setembro de 2020.



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