Exposição de Tiago 4.11-17
Publicado em 01/05/2025
Este texto é a adaptação de um sermão pregado pelo pastor Rodolfo em 2017. Agora postado em formato de blog para que todos tenham acesso ao conhecimento exposto à luz das Escrituras. Embora tenha sido proclamado anos atrás, sua mensagem permanece atual, pois a Palavra de Deus é viva e eficaz.
Ao nos aproximarmos da seção conclusiva da carta de Tiago, somos levados a considerar com maior sobriedade as palavras finais do apóstolo. Tiago 4:11-17 marca a abertura da parte final da epístola, e é como se o autor apertasse o tom, convocando seus leitores não apenas a ouvirem, mas a examinarem o próprio coração diante do Senhor.
Antes de irmos diretamente ao texto, precisamos resgatar o caminho percorrido por Tiago até aqui. Essa não é uma carta de exposição leve com princípios gerais. Ela fere, incomoda, confronta e molda. E isso é graça. Porque, por meio desse confronto, Deus nos traz de volta ao centro da vontade dEle. É o tipo de carta que nos obriga a abaixar os olhos em reverência e erguer o coração em arrependimento.
Tiago inicia sua epístola chamando a atenção dos crentes para a firmeza da fé em tempos de provação. Ele não ensina o povo de Deus a escapar, mas a permanecer. Trata-se de uma carta escrita a uma igreja dispersa, perseguida, aflita — mas que precisava continuar crendo. Logo nos primeiros versículos, ele estabelece a distinção entre provação e tentação, um discernimento que, quando bem compreendido, muda por completo a forma como enxergamos os dias maus. Porque o que vem para nos testar não é o mesmo que vem para nos seduzir ao pecado.
Ainda no primeiro capítulo, Tiago nos chama a não apenas ouvir a Palavra, mas a praticá-la. Ele afirma que aquele que ouve e não pratica está se enganando a si mesmo. E esse engano é interno, sutil, perigoso. Por isso, a convocação é urgente: se a fé é verdadeira, ela precisa dar frutos visíveis e coerentes.
Na sequência da carta, encontramos sua segunda grande ênfase: a coerência cristã. Tiago repete com variações uma mesma verdade: não me diga apenas o que você crê — mostre como você vive. A fé sem obras é morta. A verdadeira religião se mostra no cuidado com os necessitados e na pureza de vida diante de Deus.
No capítulo 2, ele denuncia a acepção de pessoas dentro da comunidade cristã, algo completamente inconciliável com o Evangelho. No capítulo 3, ele volta sua atenção para o uso da língua; o nosso falar. Mostra como ela revela o coração e como, se descontrolada, pode destruir vidas, relacionamentos, e até mesmo igrejas. É nesse mesmo capítulo que Tiago distingue a sabedoria que vem do alto — pacífica, amável e cheia de bons frutos — daquela que é terrena, animal e diabólica.
Então chegamos ao capítulo 4, onde Tiago expõe, com clareza, a essência do mundanismo. E aqui é preciso atenção: mundanismo não se resume a beber, fumar ou se prostituir. Segundo o apóstolo, o mundanismo começa nas disputas internas, nos desejos desordenados, nas orações autocentradas, nos planos de glória pessoal. Tiago chama de adultério espiritual aquele que tenta usar a fé como instrumento para satisfazer seus próprios interesses. A solução apresentada? "Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós."
Esse trecho é, inclusive, o único em todo o Novo Testamento que se refere diretamente aos crentes como "pecadores". Ele continua dizendo: purificai o coração, chorai, lamentai, convertei o riso em pranto. E conclui esse bloco com uma promessa belíssima: "Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará."
Com essa base, Tiago prepara o coração do leitor para os versículos que agora passamos a examinar com atenção: Tiago 4:11-17. Que o Senhor nos dê graça para ouvir. Mas não apenas ouvir. Que Ele nos dê graça para obedecer.
Tiago 4:11-12
Tiago prossegue, nos versículos 11 e 12 do capítulo 4, abordando dois problemas gravíssimos presentes dentro da vida comunitária da igreja. Problemas que, mais do que externos, revelam a verdadeira condição do coração humano. O primeiro deles, à luz dos versículos citados, é a maledicência. E não se trata aqui apenas de uma advertência contra fofocas ou críticas pontuais, mas sim de um ataque direto contra a forma como muitos crentes, sem base bíblica, assumem o lugar de juiz no meio do povo de Deus.
O texto é direto: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão e julga seu irmão, fala mal da lei e julga a lei. E se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz. Há um só legislador e um juiz, que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és que julgas ao outro?" (Tiago 4:11-12)
Tiago não está condenando a disciplina eclesiástica nem a confrontação bíblica do pecado — ele está repreendendo o juízo hipócrita e sem fundamento nas Escrituras. Ele denuncia a maledicência que nasce da arrogância do coração humano, da presunção de ser padrão e modelo para os outros.
Isso é grave. Porque, ao fazer isso, não apenas se julga o irmão, mas se julga a própria Lei. O que se está dizendo, ainda que inconscientemente, é: “a Lei de Deus não é suficiente; ela não bastou para corrigir esse irmão. Se fosse perfeita, ele pensaria como eu.”
Tiago é contundente: quem age assim usurpa o lugar do único Juiz, o Senhor. E, como vemos em outros textos — como Mateus 7 e João 7 — o juízo que agrada a Deus é o que nasce da reta justiça, e não da soberba. Ele não permite meio-termo: quem se coloca como juiz, sem base bíblica, já não é mais cumpridor da Lei, mas usurpador do trono divino. Usurpa o lugar daquele que é o único Legislador e Juiz. A pergunta final é cortante: “Quem és tu, que julgas o outro?”
Entretanto, quando o pecado é evidente, o juízo precisa acontecer. Tiago não nega isso. Aliás, todo o Novo Testamento aponta para a necessidade de confrontar o irmão que vive em pecado não arrependido. O próprio Jesus, em Mateus 18, ensina a abordagem: primeiro, a exortação pessoal; depois, com testemunhas; em seguida, diante da igreja. E, caso não haja arrependimento, a exclusão.
Em 1 Coríntios 5, Paulo orienta a igreja a remover o imoral que se recusa a se arrepender. E vai além: diz que nem sequer se deve comer com tal pessoa. Em 2 Tessalonicenses 3, Paulo exorta os crentes a se afastarem daqueles que não andam segundo os ensinos apostólicos, a fim de que sintam vergonha e retornem ao Caminho.
Tudo isso mostra que o juízo existe. Mas o padrão é a Escritura, e o objetivo é a restauração. Quando a crítica é feita fora desse padrão, baseada apenas em gostos, tradições ou julgamentos culturais, torna-se maledicência.
A condenação feita por Tiago não é contra o discernimento. Há uma diferença entre julgar segundo a reta justiça (Jo 7:24) e falar mal por puro capricho ou por discordância pessoal. Tiago não está dizendo que a igreja não deve identificar e corrigir o pecado; está dizendo que a crítica só é justa quando está ancorada na Palavra.
Infelizmente, o que se vê em muitas comunidades é um espírito de julgamento travestido de zelo. Irmãos que se colocam como parâmetro absoluto de santidade. E, quando encontram alguém que pensa ou age diferente, mesmo que em um campo em que a Escritura é silenciosa e permite interpretações diferentes — desde que não infrinjam qualquer outro ensino dela — condenam com toda severidade. Para Tiago, isso é impiedade.
Ele vai mais longe: ao agir assim, não apenas se julga o irmão e a Lei, mas se toma o lugar do Legislador. É uma ofensa vertical. E é também uma expressão de ignorância teológica, pois ignora que nem todos os temas têm definição direta nas Escrituras. Há espaço para divergir, desde que não se toque na doutrina central.
Tiago está nos ensinando que não há problema em pensarmos diferente sobre questões secundárias, desde que ambos estejam dentro do limite da ortodoxia bíblica. Mas quando começamos a criticar o irmão que não está em pecado, apenas porque ele é diferente de mim, estamos nos tornando maledicentes.
É exatamente por isso que precisamos tomar cuidado com julgamentos que nascem de choques culturais ou de preferências particulares. Por exemplo, houve pregadores que, em certo momento, chegaram a declarar que em determinadas nações do Oriente comer carne de cachorro era pecado. Ora, isso não está nas Escrituras. Comer carne de cachorro, ainda que cause repulsa em culturas como a nossa, é uma questão cultural, não doutrinária. Se alguém prega contra isso, dizendo que é pecado, está impondo sua cultura como se fosse mandamento bíblico. Isso é maledicência disfarçada de santidade. Isso é tomar o lugar da Escritura como parâmetro absoluto de juízo.
Tiago é claro: quando a crítica não está baseada na transgressão da Lei, mas apenas em gostos e opiniões, quem erra é quem critica. E mais: quem critica assim, perde o direito de ser chamado de observador da Lei. Não é mais crente, no sentido prático e piedoso do termo. Porque observador da Lei é aquele que se submete àquilo que Deus ordena, e não aquele que exige que o outro se conforme com sua própria opinião.
O texto termina com a afirmação de que apenas um é o Legislador e Juiz. Somente Ele tem autoridade para salvar e destruir. Portanto, quem somos nós para julgar, quando a Palavra não nos autoriza a fazê-lo?
Tiago não está nos chamando ao silêncio covarde diante do pecado evidente. Mas está nos alertando contra o espírito farisaico que transforma preferências pessoais em mandamentos, e convicções particulares em verdades absolutas. Isso é pecado. Isso é maledicência. Isso é impiedade.
Tiago 4:13-15
Na sequência de sua exortação pastoral, Tiago volta-se agora para um segundo problema, também de ordem espiritual, que expõe a impiedade do coração humano: a arrogância de projetar o futuro sem referência à vontade soberana de Deus. Trata-se de uma conduta silenciosa, aparentemente inofensiva, mas que, nas palavras do apóstolo, denuncia uma vida dissociada da submissão a Deus.
Ao tratar dessa questão, Tiago tem em vista aqueles irmãos que elaboram planos — grandes ou pequenos — como se fossem senhores do tempo, donos dos seus próprios caminhos. Ainda que externamente esses projetos pareçam apenas rotineiros — como uma viagem, uma compra ou um negócio a ser realizado — o erro apontado está na raiz: a exclusão de Deus do processo decisório.
A prática, infelizmente comum, pode ser ilustrada por um exemplo cotidiano: alguém reúne sua família, propõe uma viagem, organiza os pagamentos, acerta datas e reservas, e somente no dia da viagem lembra-se de "pedir a bênção de Deus". Ora, nesse ponto, a oração não é expressão de dependência em todo o processo, mas uma formalidade religiosa. Deus está sendo chamado apenas para assinar um projeto que já foi decidido. Isso não é devoção, isso é soberba.
Tiago repreende com veemência tal postura. No versículo 13, lemos:
"E agora vós, que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos..."
E logo adverte:
"Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece."
A profundidade dessa pergunta deve constranger os corações. O que é a nossa vida? Tiago responde: um vapor. Uma existência efêmera, frágil, vulnerável. Somos criaturas que não possuem controle sequer sobre o segundo seguinte de suas vidas. Planejar sem Deus, portanto, não é apenas soberba; é loucura.
Não há pecado em estabelecer metas, nem em desejar alcançar objetivos. O erro está em fazê-lo à revelia do Senhor. O apóstolo não está proibindo a organização ou o planejamento, mas a presunção. É o espírito altivo que traça os caminhos sem consulta ao Eterno. O coração que diz: "farei", sem antes perguntar: "Senhor, é Tua vontade?"
Essa prática revela o afastamento da piedade. Tiago nos mostra que a devoção verdadeira não se manifesta apenas no culto, mas no cotidiano. A espiritualidade que não se traduz em dependência prática é, no mínimo, suspeita. Um cristão que anda com Deus é aquele que insere Deus em seus passos, em seus planos, em suas escolhas.
A resposta correta, segundo Tiago, encontra-se no versículo 15:
"Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo."
Aqui está o espírito da verdadeira sabedoria: submeter-se à vontade soberana de Deus. Reconhecer que tudo depende Dele — inclusive a vida. Que qualquer decisão deve ser precedida de oração, de dependência, de reverência. "Se o Senhor quiser" não é expressão mecânica ou frase pronta; é um estilo de vida, um coração submisso, uma teologia prática.
E, por fim, essa exortação também desmascara a teologia da prosperidade, tão difundida em nossos dias, que ensina o crente a "decretar", "determinar", "profetizar" aquilo que deseja. Tiago nos mostra que o homem não determina nada. Quem determina é Deus. Somos vapores — frágeis e passageiros — e devemos viver conscientes da soberania divina.
Portanto, Tiago nos chama à humildade prática. A viver cada dia com temor. A planejar, sim — mas com oração. A decidir, sim — mas consultando ao Senhor. A desejar, sim — mas nos submetendo ao "se o Senhor quiser". Pois toda presunção, mesmo disfarçada de piedade, é arrogância diante de Deus. E contra tal arrogância, Tiago se levanta, em nome do próprio Cristo.
Tiago 4:16
Dando continuidade à sua admoestação, Tiago, agora no versículo 16, desmascara aquilo que há de mais profundo e oculto nos corações presunçosos: a glória vã. A glória que nasce não do temor a Deus, mas da confiança em si mesmo, nos próprios planos, nos próprios méritos.
"Mas agora vos gloriais em vossas presunções. Toda glória tal como esta é maligna."
Não se trata de uma glória santa, como a do salmista que diz: "A minha alma se gloriará no Senhor" (Sl 34:2). Trata-se de uma glória que nasce da independência — da pretensa autossuficiência do homem. Quando se planeja, age e fala como se Deus fosse um detalhe, um apêndice religioso para legitimar decisões já tomadas, o coração já foi tomado pela malignidade.
Essa presunção é condenada não apenas pela sua arrogância, mas pela sua natureza. Tiago declara: "Toda glória tal como esta é maligna". E aqui, o termo "maligna" — no grego ponērá — não remete diretamente ao diabo, mas àquilo que é da mesma essência do que é satânico: soberba, independência, altivez contra Deus. É, portanto, uma malignidade de origem humana, mas com semelhança espiritual diabólica.
Tiago, em sua carta, é o único autor do Novo Testamento que se dirige a uma igreja chamando-a de pecadora (4:8), que descreve a sabedoria terrena como sendo "animal e diabólica" (3:15), e que agora afirma que há glórias em nós que são idênticas às do maligno. Não porque fomos possuídos pelo diabo — mas porque, em nossa essência natural, tendemos a agir como ele: sem Deus, contra Deus, e apesar de Deus. Essa é a essência da presunção.
Quando um cristão estabelece seus planos e metas e não coloca Deus no centro, não se submete à soberania divina, não busca direção espiritual, não ora... esse cristão, nas palavras de Tiago, está agindo com a mesma lógica de Satanás. E isso é chocante, porque o texto nos põe lado a lado com o próprio inimigo de nossas almas.
É por isso que o exemplo dos reis piedosos de Israel, é tão impactante. Quando lemos o Antigo Testamento, vemos que os poucos reis fiéis buscavam o Senhor antes de qualquer ação. Quando havia dúvidas, consultavam os profetas, esperavam respostas, ofereciam sacrifícios. Havia reverência. Dependência. Consciência de que a liderança sobre o povo era delegada, e não própria.
Mas hoje, a igreja se perdeu. A espiritualidade foi trocada por campanhas, votos e "elos". As orações foram substituídas por slogans triunfalistas. E o povo se esqueceu de consultar a Deus. Esqueceu-se até mesmo de orar. O coração está longe. As Escrituras foram abandonadas.
Tiago, então, em sua simplicidade pastoral, nos coloca diante da realidade mais dura: ao projetar o futuro sem Deus, tornamo-nos semelhantes ao maligno. Não porque cometemos pecados escandalosos, mas porque vivemos como se fôssemos autônomos, soberanos sobre nós mesmos.
A frase "Se o Senhor quiser" não é um amuleto. É um lembrete diário de que nossa vida não nos pertence. Que cada batida do coração, cada plano feito, cada passo dado deve ser submisso ao Rei eterno. Pois o contrário disso não é apenas erro... é malignidade. E, se isso não nos faz tremer, talvez tenhamos nos acostumado demais com a nossa própria presunção.
Tiago é simples. Direto. Pastoral. E aqui nos diz, com toda clareza: se você determina seus passos sem colocar Deus neles, você é, segundo as Escrituras, maligno. Porque age como aquele que foi o primeiro a se levantar contra o trono do Altíssimo.
E talvez o mais doloroso de tudo isso seja perceber que boa parte da igreja brasileira de nossos dias está afundada nesse tipo de pensamento. O número de crentes que nunca leu a Bíblia inteira é assustador. Há quem viva de campanha em campanha, mas não conhece as Escrituras. Há quem profetize, grite, pule e fale em línguas — mas nunca meditou profundamente em Tiago, nunca confrontou seu coração com a verdade de Deus.
Essa é a tragédia do evangelicalismo contemporâneo: muito barulho, pouca Bíblia. Muita performance, pouca piedade. Muita presunção, pouca oração. E é por isso que essa palavra é tão urgente. Tão necessária. Tão desconfortável.
Tiago 4:17
O versículo 17 conclui a exortação iniciada por Tiago nesse trecho de sua carta com uma sentença tão curta quanto profunda:
"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado."
Infelizmente, esta passagem tem sido frequentemente interpretada de forma isolada, com a compreensão de que se refere a qualquer oportunidade de fazer o bem que é negligenciada. Embora essa leitura seja verdadeira em outros textos — como em Efésios, que nos ordena a prática do bem; ou em Mateus 5, que nos exorta a orar por aqueles que nos maldizem —, não é essa a intenção imediata do texto de Tiago.
Aqui, a aplicação é muito mais precisa e direta. Este versículo está se referindo a tudo aquilo que foi ensinado na carta até agora. Tiago está dizendo: "Agora que vocês sabem o que é correto — pois ouviram, leram, foram ensinados — se não fizerem, cometem pecado." Não se trata de ignorância, mas de rebeldia consciente. De pecado intencional.
E é por isso que Tiago, de maneira pastoral, está tornando seus ouvintes (e leitores) culpados. Responsáveis. Conscientes. Ele diz: "Vocês ouviram. Vocês sabem. Vocês conhecem. Se ainda assim não viverem de acordo com o que receberam — vocês pecam."
Isso, portanto, nos coloca diante de um tipo de pecado gravíssimo: o pecado da omissão deliberada. Não de quem não sabe, mas de quem sabe e escolhe não obedecer. De quem compreende, mas não pratica. De quem escutou o chamado à coerência cristã, mas preferiu permanecer na superficialidade religiosa.
Esse é o contexto. Tiago não está tratando genericamente da bondade entre os homens — embora isso também seja mandamento bíblico —, mas está cobrando obediência prática a tudo o que já foi ensinado desde o capítulo 1.
Por isso, cada um de nós, após termos passado por essa e outras exposições, somos agora pecadores conscientes. Se deixarmos de lado tudo o que aprendemos e seguirmos vivendo como antes, estaremos incorrendo em pecado. E não mais por ignorância, mas por dureza de coração.
Diante disso, minha oração é que o Senhor guarde nossos corações, para que possamos lidar com essas questões da forma mais delicada, porém, profundamente bíblica. Que tomemos posição em nossa fé. Que sejamos homens e mulheres de vida santa, piedosa, separada. Que o Senhor nos sustente, para que não sejamos apenas ouvintes — mas praticantes da Palavra.
Como disse Tiago, no início de sua carta:
"Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos." (Tg 1:22)
Deus os abençoe em Cristo.