Voltemos no tempo e nos coloqueunsmos naquela cena. O Evangelho de Mateus nos mostra Jesus na Galiléia, em meio a multidões que vinham de todas as regiões — Galiléia, Decápolis, Jerusalém, Judéia e além do Jordão. Por que estavam ali? Porque haviam visto a manifestação do Pai através do Filho. Milagres, libertações, ensino com autoridade.
E então o texto diz:
“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos, e ele passou a ensiná-los...” (Mateus 5:1-2)
Veja que não foi uma cátedra num templo suntuoso. Foi num monte. Não houve aviso prévio, não houve liturgia programada. Foi o Filho percebendo as multidões — o original grego indica que Ele “viu profundamente”, discernindo as necessidades espirituais daquelas pessoas. Então Ele mudou a Sua agenda. Subiu ao monte, assentou-se — postura de um Rabi, de Mestre — e se dispôs a gastar tempo ensinando o Reino.
Ali já aprendemos algo essencial: Jesus não foi um mestre distante, Ele sentou-se para ensinar, para revelar o Pai, para transformar vidas. Isso também é um chamado para nós: abrir espaço na nossa agenda para o Reino, e não tentar encaixar o Reino na nossa agenda.
Precisamos corrigir uma visão perigosa. Há quem leia o Sermão do Monte como um código moral, uma lista de boas maneiras cristãs, um “jeito bonitinho de viver”. Mas isso é um erro grotesco. O Sermão do Monte não é um ajuste de comportamento exterior; é o padrão celestial para um coração transformado.
É impossível vivê-lo sem o Espírito Santo. Um homem não regenerado pode até tentar imitar algumas virtudes — pode parecer manso, pode lutar por justiça social — mas não será bem-aventurado aos olhos de Deus, porque não faz parte do Reino. Jesus está descrevendo o caráter dos súditos do Reino, não oferecendo um programa de moralidade para ímpios.
Paulo vai dizer isso em outras palavras: “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura” (1Co 2:14). Então entenda: o Sermão da Montanha é doutrina pura, é a espinha dorsal da nova aliança. Sem ele, não compreendemos a justificação, o juízo, a santidade que Deus exige e a dependência total do Espírito para viver assim.
Mateus quer mostrar claramente aos judeus que Jesus é o novo Moisés. Mas observe a diferença. Moisés subiu ao Sinai, onde Deus Pai entregou as tábuas da Lei escritas em pedra. O povo ficou embaixo, com medo, proibido de tocar o monte, sob pena de morte.
Agora vemos Deus Filho subindo um monte não para entregar pedras, mas para Ele mesmo ser a Palavra viva. E não afastou o povo; pelo contrário, convidou todos a se aproximarem. No Sinai, a santidade afastava. No monte da Galiléia, a graça atrai.
O que isso nos ensina? Que o mesmo Deus que antes julgava e mantinha distância por causa do pecado, agora se aproxima, se assenta e oferece perdão, nova vida e um padrão celestial — mas não menos santo. O Sermão do Monte é tão exigente quanto a Lei, mas ao mesmo tempo revela a graça que opera o impossível no nosso coração.
Querido irmão, querida irmã, Cristo está assentado, pronto para ensinar. Você está disposto a subir o monte e sentar-se aos pés dEle? Ou está acomodado demais para isso? Não trate o Sermão da Montanha como uma bela poesia; trate como a bússola do Reino, a direção para uma vida que realmente glorifica a Deus.
Que o Senhor nos dê corações humildes, famintos, dispostos a serem transformados por Ele. Porque o Sermão do Monte não foi dado para ser admirado à distância, mas para ser vivido — para a glória do Pai, em Cristo, pelo poder do Espírito Santo.